O que pode parecer básico, a troca de experiências e colaboração entre empresas e a universidade, tem sido a fórmula do sucesso no AgTech Valley de Piracicaba, SP
Em sua terceira edição neste outubro de 2019, a EsalqShow demonstra estarmos começando a viver um movimento forte de aproximação da Academia com a vida real. Esta é minha impressão. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo, tem em seu campus em Piracicaba, SP, um ambiente singular que conjuga a tradição e o passado de histórias, com a inquietude e a ambição de construir o novo. Talvez por tudo isso exerça um papel tão importante de indicação de futuro e reconhecimento como indutora de um consistente polo de Agro tecnologias.
Com sua grande tradição nas ciências agrárias, ao longo dos últimos anos a ESALQ tem demonstrado atenção na área da tecnologia, tendo criado em 2006, através de um convênio entre a universidade e diversas instituições, a EsalqTec Incubadora Tecnológica. Incubadora, ainda hoje, um termo não decifrado por muitos. Resumindo o objetivo: incentivar e dar suporte a criação de startups, empresas de inovação, focadas nos gargalos de desenvolvimento tecnológico, gerando produtos e serviços baseados em tecnologia avançada. Em síntese, encontrar soluções para problemas reais que nossas cadeias do Agro enfrentam, oportunizando ganhos de eficiência e gerando mais renda.
Imortalizado em um banco na Esalq, Luiz de Queiroz assiste a evolução da tecnologia no Agro
Ao longo de três dias o ambiente do campus da universidade foi palco de muitas conversas, discussões e apresentações de tecnologias em desenvolvimento. Estudantes e empreendedores iniciantes, entusiastas com suas novas ideias e soluções, encontrando professores, mentores e, principalmente, visitantes e investidores. Uma mistura muito interessante. Tremenda aprendizado e oportunidade para trocas e construção de novas soluções. O mais bacana é ver a iniciativa privada e a universidade construindo juntas e de forma colaborativa este processo de desenvolvimento e busca da inovação.
O que pode parecer básico, a troca de experiências e colaboração entre empresas e universidade, não é a prática comum em nosso meio acadêmico. Não é por nada que o desenvolvimento de tecnologias por aqui está muito mais relacionado aos departamentos de pesquisa das empresas do que aos laboratórios de nossas universidades. Diferente daquilo que parece normal em outros países, onde a pesquisa e os laboratórios das universidades estão próximos da iniciativa privada e dos problemas reais da sociedade, no Brasil parece que existe um preconceito e aversão a esta aproximação. Não por acaso a maioria dos trabalhos de pesquisa por aqui não resolvem problemas reais, não geram patentes e muito menos vemos grandes soluções e empresas sendo criadas a partir dos bancos universitários. Uma pena!
Em meio a tantas oportunidades que este novo mundo das tecnologias disruptivas está nos abrindo, fica evidente que a colaboração e as trocas de experiências são fundamentais. A aproximação e trabalho conjunto entre empresas e universidades, que lá fora é tão comum, precisa ser estimulada e assumida por nossos dirigentes como foco estratégico. O exemplo da Esalq e de sua EsalqTec, com mais de 70 empresas incubadas ou associadas, já traz resultados reais para o Agro. Há uma nova cultura surgindo a partir desta universidade, com estímulo aos alunos para abrirem seus próprios negócios e iniciativas que estão atraindo empresas, entidades e investidores, neste que já é considerado hoje o mais desenvolvido ecossistema AgTech do país. Não é por nada que já está sendo chamado do Vale do Silício brasileiro, e pode servir de exemplo para várias outras regiões e universidades.
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